quinta-feira, 10 de junho de 2010

As ruas - Ontem e hoje.

Essa postagem é resultado da comparação de duas crônicas que refletem o cotidiano carioca, A Garota do ubúrbio de de J. CArino e A rua de João do Rio. Em ambos os textos os autores definem os elementos quem fazem parte da Cidade, como os meios de transporte, as ruas, as casas, enfim, cada elemento como parte das nossas vidas. Veem o lado sentimental que está posto a cada um desses elementos em nosso cotidiano, como cada um de nós trata essas particularidades e individualidades de cada lugar por onde se passa.
É como se a Cidade e seus elementos estivessem diretamente ligados com nossa memória, nosso passado, com a nossa história de vida e com a história de vida da própria Cidade, da sua evolução. A evolução dos personagens também está aliada a evolução da Cidade, o envelhecimento e as transformações acontecem em ambos e um depende do outro para que tudo aconteça, para que exista movimento, graça, sentimento, alma... Foi dessa forma que pudemos interpretar os pontos de vista dos autores.
A crônica, Garota de Subúrbio é um contraponto à letra da música Garota de Ipanema, descreve o cotidiano de uma personagem que mora no subúrbio e se caracteriza de acordo com o local onde mora. A garota do subúrbio chama a atenção por sua beleza e compostura. Apesar de não morar em um lugar bonito e elegante como a garota de Ipanema, e mesmo não usando roupas sofisticadas ou tendo um corpo dourado encanta a todos. O trecho que corrobora essas afirmações é: “Ah, se ela soubesse que, quando ela passa, o mundo inteirinho se enche de graça, uma graça que ultrapassa de muito a beleza física e reflete o belo de sua dignidade, o magnífico de sua luta”.
Para João do Rio os personagens caracterizam a rua e a rua caracteriza os personagens. As pessoas de um mesmo bairro possuem gostos e costumes iguais. “A rua fatalmente cria o seu tipo urbano como a estrada criou o tipo social. Todos nós conhecemos o tipo do rapaz do Largo do Machado: cabelo à americana, roupas amplas à inglesa, lencinho minúsculo no punho largo,(...). Esse mesmo rapaz, dadas idênticas posições, é no Largo do Estácio inteiramente diverso”. Ele diz que todos são essenciais para fazer funcionar a rua.

O texto de Paulo Barreto (que assume o pseudônimo de João do Rio), intitulado “A Rua”, retrata hábitos e costumes, bem como descreve indumentárias e paisagens do início do século XX, apresentando protagonistas inusitados: as ruas da cidade. O autor as descreve como se fossem pessoas, atribuindo-lhes personalidade e até mesmo sentimentos, o que caracteriza segundo Pechman o urbano, que se define como as manifestações da cidade. Interessante é a constatação de que, de acordo com a visão do autor, se os tempos, as pessoas e os costumes mudaram, as ruas também mudam, trazendo aqui, a idéia de que a cidade possui é um objeto de reforma (Pechman, 1991) capaz de fazer nascer uma nova ordem social.
O texto descreve ruas calçadas com pedras (tipo de calçamento quase inimaginável para os dias atuais); fala ainda de passeios a pé, conversas nas esquinas. O meio de transporte mais importante ainda era o bonde.
O entretenimento, variando, desde as óperas ao cancioneiro popular.
Mas os tempos, inegavelmente, mudaram. Mudaram, também, os costumes, os hábitos, a indumentária e, infelizmente, os valores. Antes, a palavra bonde remetia a uma idéia agradável, até amigável. Hoje, a palavra "bonde" apavora, amedronta: "vai passar o bonde..." Reflexos da violência urbana dos tempos modernos.
Nos dias atuais, o canto de pássaros nas ruas é uma idéia nostálgica para alguns, estranha para outros e indiferente para a maioria. A Maioria que é transportada diariamente nos trens lotados, caindo aos pedaços, ônibus fumacentos, barulhentos, na correria, na angústia dos engarrafamentos. São os trabalhadores, estudantes ou, em muitos casos, "trabalhadores-estudantes" que, não raramente, praticam jornadas duplas: Muitas vezes retornam ao lar quase na hora de novamente saírem para o trabalho.


São os nossos dias. E os nossos dias são a base para os dias que virão. A pergunta é: Como serão?

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