segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Trabalho Individual Marcos Poubel

A OPOSIÇÃO FAVELA-BAIRRO NO ESPAÇO SOCIAL DO RIO DE JANEIRO
LUIZ CESAR DE QUEIROZ RIBEIRO
Professor do IPPUR da Universidade Federal do Rio de Janeiro
LUCIANA CORRÊA DO LAGO
Professora do IPPUR da Universidade Federal do Rio de Janeiro
artigo retirado do portal scielo
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392001000100016&lang=pt


O trabalho tem como objetivo traçar o perfil social da população residente em favelas na metrópole do Rio de Janeiro a partir de dois enfoques analíticos: a heterogeneidade social no interior do universo estudado e a distância social entre tal população e aquela em seu entorno. Essa perspectiva nos permitirá refletir sobre a imagem da favela como o locus principal da pobreza excludente. Para tanto, serão analisados indicadores de ocupação, renda, instrução, padrão familiar, migração, cor e idade, construídos com os dados do Censo Demográfico 1991 e da Contagem da População 1996.
O artigo se inicia com a definição de favela e com citações que colocam a favela como algo que atrapalha a ordem e a paz urbana, não devendo sequer existir. Depois ele vem mapeando as mudanças de discursos em relação às favelas desde a década de 70 até os dias de hoje, afirmando que há uma concepção dualista. Com a absorção de conceitos e noções teóricas, no campo acadêmico, com os quais se estrutura hoje o debate internacional sobre os impactos sociais e espaciais das mudanças econômicas nas cidades. Tornou-se expressão de prestígio intelectual o uso de termos tais como "gueto", "exclusão social" e "nova marginalidade" nas análises sobre o "problema da favela". A inclusão do narcotráfico e da violência urbana na agenda da academia reforça a legitimidade da concepção dualista, uma vez que a vida organizativa da favela estaria sendo substituída por um estado de anomia.
O grande crescimento demográfico das favelas ocorreu a partir da década de 80. Nos anos 90, ao contrário do que se imaginava, as favelas continuaram a manter as altas taxas de crescimento demográfico. Classicamente, atribuiu-se à migração, particularmente à do Nordeste, a causa do crescimento demográfico nas favelas. Os dados censitários, no entanto, indicam que a migração explica cada vez menos o acelerado processo de favelização em curso na cidade. Na zona oeste, por exemplo, região que apresentou, entre 1991 e 1996, o maior incremento absoluto de população favelada (em torno de 22 mil pessoas), apenas 2 mil e 600 pessoas residentes em favelas eram migrantes2 da década de 90. Podemos inferir que o surgimento e a expansão de novas favelas (localizadas predominantemente na zona oeste) têm ocorrido por meio da mobilidade espacial no interior do próprio município, seja do bairro para a favela, seja de favelas consolidadas para favelas recentes.
O artigo verifica também que na favela, em relação a cidade, há maior predominancia de negos, jovens, homens e de pessoas até 23 anos sem escolaridade. As desigualdades oriundas dessas diferenças podem expressar mecanismos de segregação e/ou discriminação de certos segmentos sociais no mercado de trabalho quando usados como critério seletivo na distribuição das oportunidades ocupacionais ou diferenciador do salário. Constata-se situação similar na análise por nível de escolaridade, ou seja, à maior escolaridade corresponde maior distância social entre moradores de favela e moradores de bairro, o mesmo sucedendo com a distância entre brancos e não-brancos
A análise da situação das favelas perante a dos bairros sugere a existência de importante divisão no espaço social da cidade do Rio de Janeiro. A oposição favela/bairro parece ser a expressão espacial das notórias desigualdades que marcam a sociedade brasileira, já que concentra os segmentos sociais que apresentam maiores desvantagens no acesso às oportunidades: os mais jovens, os não-brancos e os de baixa escolaridade.
No final, o artigo apresenta uma auto-crítica afirmando que esta análise é insuficiente para identificar a posição das favelas no espaço social da cidade. É imprescindível passar da análise da divisão favela/bairro para a interpretação da (di)visão dessa dicotomia socioespacial, ou seja, avaliar se as diferenças observadas são representadas legitimamente na sociedade carioca como separação e/ou inferioridade. Parece que a hipótese explicativa mais plausível é a das diferenças de renda entre favela e bairro.